O sagrado e a violência na fronteira da Lei
Resumo
Na ausência ou inoperância do Estado nas grandes periferias do Brasil, um poder paralelo capitaneado por facções ou milícias, vem assumindo funções do poder público, criando “leis” próprias para governar tais espaços urbanos. Nestes territórios, estão situadas comunidades religiosas, que precisam se adequar às regras ali estabelecidas e também manter relações amistosas com chefes destes grupos armados, os quais, inclusive, fazem apropriação de símbolos, vocabulário e ritos, bíblicos ou evangélicos, como estratégias de poder. Daí o uso de terminologias para identificá-los: “Traficantes evangélicos” ou “Os novos bandidos de Deus”. O artigo também analisa a relação entre crença e violência em outros momentos da história do Brasil, ocorridos na fronteira da Lei. É relevante a abordagem dessa temática, sobretudo pelas discussões contemporâneas sobre tolerância, respeito à diversidade e a crescente propensão de se tratar a violência como algo habitual, passível, inclusive, de ser conjugada com práticas sagradas.