O fim da identidade evangélica: uma análise dialética da fragmentação doutrinária, suas consequências políticas e o imperativo da diversidade no Brasil
Resumo
O crescimento numérico do segmento evangélico no Brasil foi acompanhado por uma intensa diversificação interna (entre históricos, pentecostais, neopentecostais e desigrejados), culminando numa crise de identidade, à qual vem sendo aplicada uma tentativa de resolução por meio de uma intensa agenda de politização dos espaços e das percepções da fé religiosa. Neste sentido, o presente artigo aborda a crescente fragmentação doutrinária e a pulverização denominacional dentro do evangelicalismo brasileiro, questionando a validade e a existência de um centro teológico comum que possa sustentar a categoria “evangélico” como uma identidade coesa e significativa no cenário contemporâneo. O argumento central é desenvolvido através de uma leitura teológica dialética, inspirada em Karl Barth, que interpreta a atual politização da fé — manifestada na ascensão da “Bancada Evangélica” e na busca por um projeto de poder — como um “Não” de Deus a essa tentativa de construir uma “cristandade” à fórceps. Em contrapartida, o “Sim” divino é identificado nas ações de amor incondicional e no respeito às diferenças, uma perspectiva que é ancorada na vasta diversidade genética do povo brasileiro como uma chave hermenêutica. Conclui-se que a fé é uma experiência fundamentalmente individual e que a tentativa de impor princípios cristãos como política de Estado representa um desvio da verdadeira vocação da Igreja, que é ser um reflexo de Cristo na sociedade, e não forjar uma “sociedade de Cristo”.