Patografia e Teografia: a dor como lócus hermenêutico da experiência do sagrado:
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão interdisciplinar entre a patografia, narrativa da dor e da enfermidade e a teografia, narrativa da experiência com o divino, tendo a dor como lócus hermenêutico privilegiado da experiência do sagrado. Partindo do pressuposto de que o sofrimento humano não é apenas sintoma clínico ou psicológico, mas também linguagem espiritual e existencial, o texto investiga como a dor pode se tornar um espaço de revelação, escuta e reelaboração do sentido. A análise integra contribuições da psicanálise, da teologia narrativa e da fenomenologia da religião para evidenciar que, na travessia da dor, o sujeito pode ser desconstruído e reconstruído em sua relação com Deus, consigo mesmo e com o mundo. O artigo examina ainda como relatos de sofrimento sejam eles bíblicos, clínicos ou autobiográficos funcionam como dispositivos hermenêuticos que revelam uma teologia encarnada, marcada não pela abstração dogmática, mas pelo drama real da existência. Em última instância, argumenta-se que a dor, ao ser narrada, se torna um texto onde a presença (ou ausência) do sagrado é experimentada, interpretada e, muitas vezes, ressignificada.